A beleza de não fazer nada

Em vez de seguir uma vida regrada e cheia de disciplina, decidi ser improdutiva. Que alívio! Confira a beleza de não fazer absolutamente nada.

Eu fiz uma bagunça ontem.

A bagunça ainda está lá.

Quem sabe quando a bagunça vai desaparecer?!

Essa bagunça me proporcionou um daqueles pratos agradáveis ​​de comida que perduram na mente muito depois da última mordida.

Mas esta história não é sobre a arte de se alimentar.

É sobre pratos sujos e roupas desdobradas.

E também um pouco sobre o potencial não realizado e a beleza de viver no talvez.

Eu tenho vivido um tanto ineficiente ultimamente.

As listas de tarefas foram decorando o interior da minha lixeira.

Eu tenho medido meu progresso pela quantidade de cochilos, e perdido a oportunidade de desenvolver minha produtividade, porque produtividade requer esforço concentrado.

E ultimamente, meu esforço tem sido derramado para todos os lados, desperdiçado um pouco aqui e um pouco ali.

Decidi conscientemente usar meu tempo de forma superficial, mergulhando e saindo da ociosidade.

nao fazer nada que bom

Crédito: Thomas | Pexels.

Essa nova maneira de organizar meus dias ainda parece muito fresca e crua para mim.

Ela vem depois de anos de otimização de todos os aspectos da minha vida.

Antigamente, eu organizava minha vida em intervalos de 1 hora na tentativa de moldar uma carreira, um corpo, e até um relacionamento perfeitos.

Eu acompanhei meu sucesso em uma planilha minuciosa de horas. E eu tive sucesso (ou pelo menos era o que eu pensava).

Estava passando de uma realização para outra e sempre me esforçando para ser, fazer e ter mais.

Embora cansativo, esse método funcionou.

Até que um dia, simplesmente, não aconteceu.

Cerca de dois anos atrás eu acordei e nada funcionou mais.

Meu corpo decidiu não cooperar mais com meu comportamento frenético.

Simplesmente tinha se esforçado muito por muito tempo, e não tinha mais nada para dar.

Teimosa que eu era, tratei meu corpo cansado como um novo projeto: tomei todas a vitaminas possíveis, larguei o açúcar e o glúten — basicamente, tudo que é gostoso — fiz #yogatododia, entrei em um detox de mídias sociais e pulei de uma cura natural para outra. 

Nada ajudou, e eu fiquei cada vez mais desesperada.

Eu tinha desenvolvimento dores nas costas, zumbidos induzidos pelas ansiedade, e uma insônia incapacitante.

Minha mistura de remédios não fez praticamente nada por mim.

Minha vontade de viver despencou com cada problema de saúde.

E então um pequeno — e ao mesmo tempo grande — milagre aconteceu.

Eu decidi simplesmente deixar ir.

Entreguei-me aos olhos sonolentos, ao cérebro confuso e à profunda e inexplicável tristeza dentro de mim.

Eu deixei de tentar fazer toda essa situação ir embora.

Joguei minha lista de exercícios e dietas rigorosas no lixo.

Eu não meditei mais nas vezes que eu preferia dormir.

Deixei de gastar dinheiro com profissionais de saúde nas vezes que eu preferiria gastar dinheiro em um ingresso de cinema. 

Eu simplesmente deixei ir e aceitei minha realidade atual.

Eu cedi à impermanência da vida e aceitei que não podia mais fazer o que eu era capaz de fazer antes.

Em troca, eu recebi da vida uma abordagem gloriosamente ineficiente e um profundo senso de presença.

Deixe-me ilustrar o que isso significa com um típico sábado na minha vida atual:

6:30 – Eu acordo naturalmente, em harmonia com o meu relógio biológico — eu prometo não acordar tão cedo nos finais de semana.

9:00 – Eu ainda estou na cama.

9:15 – Eu me levanto e faço um mingau simples. Eu me mantenho comendo isso na próxima meia hora. O mingau fica frio no meio do caminho — eu prometo comer um pouco mais rápido da próxima vez.

11:45 – Eu alterno entre a leitura de um livro e pequenos cochilos.

14:00 – Eu tenho um almoço curto e, em contraste, uma longa caminhada no parque logo depois.

16:00 – Eu faço uma tentativa de escrever, mas estou principalmente apenas olhando para um pedaço de papel em branco — eu prometo olhar para um papel em branco com mais frequência.

17:00 – Eu começo a preparar uma refeição. Eu não uso receita, mas o prato é surpreendentemente saboroso — eu prometo usar menos receitas daqui para frente.

19:00 – Pego meu livro mas decido fazer um alongamento consciente.

21:00 – Eu queria fazer uma meditação antes de dormir, mas o alongamento me deixou um pouco sonolenta. Depois de um dia sem fazer nada demais — especialmente não ter lavado a louça — vou para a cama cedo.

Eu prometo lavar a louça amanhã, ou talvez depois de amanhã — eu não tenho intenção de manter nenhum dos meus votos.

Eu sei que ainda existem muitas corridas para serem corridas, trabalhos para serem feitos, amores para serem amados.

Mas recentemente todas as corridas, trabalhos e amores tiveram que esperar.

Esperar para abrir espaço para todos os nadas que eu tenho neglicenciado por muito tempo.

Os nadas que foram pacientemente se acumulando na minha mente e agora estão se esvaindo com urgência.

Nada tem sido mais importante que o nada, e a ineficiência que o acompanha. 

Ainda há, claro, corridas, trabalhos e amores, mas, principalmente, muitos cochilos.

Parece tolo para mim, agora, correr para produzir grandeza.

Talvez amanhã eu seja produtiva de novo — afinal o equilíbrio é fundamental — mas não hoje.

Por que hoje eu arrisco perder meu tempo por uma chance de me sentir viva.

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Este texto foi publicado originalmente no Tiny Buddha, por Lizzy Dean. Adaptação feita por Awebic. Saiba mais sobre o trabalho de Dean aqui.

Amanda Ferraz
Escrito por

Amanda Ferraz

Analista de SEO e editora do Awebic e Receitinhas. Escrevendo desde sempre, formada em jornalismo, fotógrafa por hobby, dando as caras na centraldoleitor.com, apaixonada por gatos, café e Harry Potter; Amandinha é leitora fissurada e estudante ininterrupta antes de qualquer coisa.