Suicídio após vazamento de vídeo íntimo comove a Itália
O suícidio de Tiziana Calzone reacendeu a discussão sobre 'revenge porn' na internet. A italiana acabou com o próprio sofrimento após humilhação pública.
Tiziana Calzone era uma pessoa doce.
Depois de ser vítima de revenge porn, sua vida virou um verdadeiro inferno até que ela se suicidou, no começo deste mês, na Itália.
Após ter vídeos íntimos vazados na internet – um deles enviado para seu ex-namorado – ela virou alvo de piadas e memes.
A imprensa e empresas também se aproveitaram do assunto usando a frase “Está filmando? Bravo!”, que ela dizia no vídeo.
Fizeram campanhas publicitárias com isso.
Até mesmo jogadores de futebol famosos, como Paolo Cannavarro, e Antonio Floro Flores entraram na humilhação pública que culminou na morte da italiana.
Imagem retirada de um vídeo onde eles ironizam a frase de Tiziana fazendo um trocadilho com a cerveja “Bravo”.
Ela tentava desde 2015, sem sucesso, retirar os vídeos e referências a ela da rede. Chegou a ganhar alguns processos, mas estava longe de reencontrar a paz.
Por conta da vingança de um ex-parceiro, foi ridicularizada, perdeu seu emprego e estava com um processo para mudança de nome.
Segundo a mãe de Tiziana, ela já havia tentado suicídio duas vezes antes de finalmente conseguir.
A jovem de 31 anos foi vítima de mais um caso de violência contra a mulher: isto não acontece apenas quando uma mulher é agredida por um parceiro.
Humilhação, difamação, julgamento, exposição pública também são formas de violência.
Tem sido cada vez mais comuns os casos em que vídeos de mulheres praticando sexo com seus namorados, amigos ou parceiros (pessoas em que elas confiaram em primeiro lugar) são viralizados e reproduzidos à exaustão em redes sociais.
Em todos os casos os prejuízos à vítima são enormes: ela perde emprego, passa a ser alvo de agressões e assédio online, perde totalmente a privacidade.
Os processos nunca correm na mesma velocidade em que a vítima é humilhada a cada piada ou compartilhamento do vídeo.
Tudo isso faz parte de uma cultura que prega que mulheres não tem direito à liberdade sexual. É como se elas fossem punidas simplesmente por fazer algo que todo ser humano faz, que é ter uma vida sexual ativa.
Em contrapartida, são raríssimos os casos em que homens são expostos à humilhação pública pelo mesmo motivo. Na verdade, enquanto escrevo este artigo, não consigo me lembrar de um caso semelhante ocorrido com um homem.
Até tatuagem fizeram.
A grande comoção que a morte de Tiziana causou na Itália acendeu a discussão sobre cyberbulling, assédio, revenge porn e violência contra a mulher. A população reagiu com um misto de choque e vergonha.
Até autoridades locais se pronunciaram, enfatizando a necessidade do combate à violência e à humilhação de jovens mulheres.
O enterro de Tiziana foi transmitido ao vivo pela TV Italiana. Conforme relata matéria sobre o caso no site da BBC, “a mulher que queria ser esquecida agora é lembrada por um país”.
O escritor Roberto Saviano declarou: “Estou de luto por Tiziana, que se matou porque era uma mulher em um país que trata o sexo desinibido como o pior dos pecados”.
Infelizmente não é só na Itália.
A polícia de Nápoles, cidade onde Tiziana vivia, está investigando o caso. Quatro homens foram acusados pelo assédio à jovem de 31 anos que queria apenas ter sua vida de volta.
A família agora espera por justiça.
“Queremos que o judiciário aja para que a morte dela não seja em vão”, disseram alguns parentes de Tiziana à imprensa. “Ela acabou entrando nesta história suja sem poder fazer nada. Aquele vídeo mudou para sempre a vida dela”, disse uma amiga próxima.
Esperamos que uma tragédia provocada pelo ódio às mulheres e pela humilhação pública possa servir de lição para que casos como este não voltem a acontecer.
Fontes: buzzfeed.com, huffingtonpost.it, bbc.com.
Analista de SEO e editora do Awebic e Receitinhas. Escrevendo desde sempre, formada em jornalismo, fotógrafa por hobby, dando as caras na centraldoleitor.com, apaixonada por gatos, café e Harry Potter; Amandinha é leitora fissurada e estudante ininterrupta antes de qualquer coisa.