Poemas de Manoel de Barros que são verdadeiras palavras de amor

Um dos grandes escritores da literatura irá te fazer chorar de amor com seus textos. Confira aqui lindos poemas de Manoel de Barros para encherão seu dia de amor.

As obras escritas de Manoel de Barros são caracterizadas por sua profundidade e simplicidade ao mesmo tempo. Veja um pouco da essência do escritor com alguns destes poemas.

Na verdade, o escritor tinha o dom de extrair a beleza da vida cotidiana e da natureza, transformando elementos insignificantes em poesia pura.

Com isso, sua linguagem é despojada e brinca com a sonoridade das palavras, criando uma musicalidade única em seus versos.

Pensando nisso, selecionamos alguns poemas de Manoel de Barros para você sentir em suas palavras o amor impactantes de bons textos literários.

Poemas de Manoel de Barros

Primeiramente, é importante você entender que as obras de Manoel de Barros são como um convite à contemplação da natureza.

Logo, a valorização das coisas simples e o olhar poético sobre o mundo é nítido nos textos do escritor.

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Poemas de Manoel de Barros que são verdeiras palavras de amor. (Imagens: Unsplash)

Confira a seguir alguns textos poéticos do escritor Manoel de Barros e entenda o quanto suas obras são cheias de amor e visão de mundo de alegria.

1 – Sobre importâncias

Um fotógrafo-artista me disse outra vez: veja que pingo de sol no couro de um lagarto é para nós mais importante do que o sol inteiro no corpo do mar.

Falou mais: que a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balanças nem com barômetros etc.

Que a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós. Assim um passarinho nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que a Cordilheira dos Andes.

Que um osso é mais importante para o cachorro do que uma pedra de diamante. E um dente de macaco da era terciária é mais importante para os arqueólogos do que a Torre Eifel. (Veja que só um dente de macaco!)

Que uma boneca de trapos que abre e fecha os olhinhos azuis nas mãos de uma criança é mais importante para ela do que o Empire State Building.

2 – De passarinhos

Para compor um tratado de passarinhos
É preciso por primeiro que haja um rio com árvores
e palmeiras nas margens.

E dentro dos quintais das casas que haja pelo menos
goiabeiras.

E que haja por perto brejos e iguarias de brejos.

É preciso que haja insetos para os passarinhos.
Insetos de pau sobretudo que são os mais palatáveis.
A presença de libélulas seria uma boa.

O azul é muito importante na vida dos passarinhos
Porque os passarinhos precisam antes de belos ser
eternos.

Eternos que nem uma fuga de Bach.

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3 – O fazedor de amanhecer

Sou leso em tratagens com máquina.
Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis.
Em toda a minha vida só engenhei
3 máquinas

Como sejam:
Uma pequena manivela para pegar no sono.
Um fazedor de amanhecer
para usamentos de poetas
E um platinado de mandioca para o
fordeco de meu irmão.

Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias
automobilísticas pelo Platinado de Mandioca.

Fui aclamado de idiota pela maioria
das autoridades na entrega do prêmio.
Pelo que fiquei um tanto soberbo.

E a glória entronizou-se para sempre
em minha existência.

4 – Um songo

Aquele homem falava com as árvores e com as águas
ao jeito que namorasse.

Todos os dias
ele arrumava as tardes para os lírios dormirem.
Usava um velho regador para molhar todas as
manhãs os rios e as árvores da beira.

Dizia que era abençoado pelas rãs e pelos
pássaros.
A gente acreditava por alto.
Assistira certa vez um caracol vegetar-se
na pedra.
mas não levou susto.

Porque estudara antes sobre os fósseis lingüísticos
e nesses estudos encontrou muitas vezes caracóis
vegetados em pedras.

Era muito encontrável isso naquele tempo.
Ate pedra criava rabo!
A natureza era inocente.

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5 – O fotógrafo

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.

Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.

O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.

Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.

Vi uma lesma pregada na existência mais do que na
pedra.
Fotografei a existência dela.

Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.

Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre.

Por fim eu enxerguei a ‘Nuvem de calça’.
Representou para mim que ela andava na aldeia de
braços com Maiakowski – seu criador.
Fotografei a ‘Nuvem de calça’ e o poeta.

Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
mais justa para cobrir a sua noiva.
A foto saiu legal.

6 – Aprendimentos

O filósofo Kierkegaard me ensinou que cultura
é o caminho que o homem percorre para se conhecer.
Sócrates fez o seu caminho de cultura e ao fim
falou que só sabia que não sabia de nada.

Não tinha as certezas científicas. Mas que aprendera coisas
di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas
das árvores servem para nos ensinar a cair sem
alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado
sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente
aprender o idioma que as rãs falam com as águas
e ia conversar com as rãs.

E gostasse mais de ensinar que a exuberância maior está nos insetos
do que nas paisagens. Seu rosto tinha um lado de
ave. Por isso ele podia conhecer todos os pássaros
do mundo pelo coração de seus cantos. Estudara
nos livros demais. Porém aprendia melhor no ver,
no ouvir, no pegar, no provar e no cheirar.

Chegou por vezes de alcançar o sotaque das origens.
Se admirava de como um grilo sozinho, um só pequeno
grilo, podia desmontar os silêncios de uma noite!

Eu vivi antigamente com Sócrates, Platão, Aristóteles
esse pessoal.
Eles falavam nas aulas: Quem se aproxima das origens se renova.

Píndaro falava pra mim que usava todos os fósseis linguísticos que
achava para renovar sua poesia. Os mestres pregavam
que o fascínio poético vem das raízes da fala.

Sócrates falava que as expressões mais eróticas
são donzelas. E que a Beleza se explica melhor
por não haver razão nenhuma nela. O que mais eu sei
sobre Sócrates é que ele viveu uma ascese de mosca.

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7 – Deus disse

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.

Sei que a voz das águas tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.

Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.

8 – Na enseada de Botafogo

Como estou só: Afago casas tortas,
Falo com o mar na rua suja…
Nu e liberto levo o vento
No ombro de losangos amarelos.

Ser menino aos trinta anos, que desgraça
Nesta borda de mar de Botafogo!
Que vontade de chorar pelos mendigos!
Que vontade de voltar para a fazenda!

Por que deixam um menino que é do mato
Amar o mar com tanta violência?

9 – Poema

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.

Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).

Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.

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10 – Uma didática da invenção

O rio que fazia uma volta
atrás da nossa casa
era a imagem de um vidro mole…

Passou um homem e disse:
Essa volta que o rio faz…
se chama enseada…

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Você gostou dessa excelente seleção de poemas de Manoel de Barros encontrar amor nas palavras? Então não perca mais tempo e compartilhe com os seus amigos e familiares esses lindos textos da literatura brasileira.

Claudio Bernardo
Escrito por

Claudio Bernardo

Redator Web desde 2017, um leitor voraz e apaixonado por livros de ficção histórica.