Cora Coralina: 9 poemas para conhecer a essência da escritora goiana

Alguns desses textos da escritora abrirão seu coração para as várias formas de amar. Confira aqui poemas de Cora Coralina para conhecer mais sobre uma das escritoras mais brilhantes da literatura brasileira.

Com um toque doce em suas palavras, é através de seus poemas que Cora Coralina convida você a explorar a simplicidade e beleza da vida.

Sua poesia é um convite para contemplar a natureza e valorizar os pequenos momentos. Partes essas da vida que muitas vezes passam despercebidos.

Logo, o amor, em todas as suas formas, é um tema recorrente na obra de Cora Coralina e com certeza irá inspirar o seu dia.

Foi pensando nisso que selecionamos alguns poemas de Cora Coralina para você conhecer mais da essência literária da escritora e se emocionar.

Poemas de Cora Coralina

A verdade é que a escritora escreveu sobre o amor entre casais, amor pelas crianças, amor pelas amizades e, acima de tudo, o amor pela vida. 

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Cora Coralina: 9 poemas para conhecer a essência da escritora goiana. (Imagens: Unsplash)

É em seus poemas que podemos transmitir uma profunda ternura e gratidão pelos laços humanos. Foi pensando nisso que selecionamos alguns poemas da escritora para motivar seu dia com bons textos reflexivos.

1 – Cora Coralina, Quem É Você?

Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.

Nasci numa rebaixa de serra
entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.

Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.

Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentroda imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.

Numa ânsia de vida eu abria
o vôo nas asas impossíveis
do sonho.

Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.

Entre a monarquia
caída e a república
que se instalava.

Todo o ranço do passado era
presente.
A brutalidade, a incompreensão,
a ignorância, o carrancismo.

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2 – Todas as Vidas

Vive dentro de mim
uma cabocla velha
de mau-olhado,
acocorada ao pé do borralho,
olhando para o fogo.
Benze quebranto.
Bota feitiço…
Ogum. Orixá.
Macumba, terreiro.
Ogã, pai de santo…

Vive dentro de mim
a lavadeira do Rio Vermelho.
Seu cheiro gostoso
d’água e sabão.
Rodilha de pano.
Trouxa de roupa,
pedra de anil.
Sua coroa verde de são-caetano.

Vive dentro de mim
a mulher cozinheira.
Pimenta e cebola.
Quitute benfeito.
Panela de barro.
Taipa de lenha.
Cozinha antiga
toda pretinha.
Bem cacheada de picumã.
Pedra pontuda.
Cumbuco de coco.
Pisando alho-sal.

Vive dentro de mim
a mulher do povo.
Bem proletária.
Bem linguaruda,
desabusada, sem preconceitos,
de casca-grossa,
de chinelinha,
e filharada.

Vive dentro de mim
a mulher roceira.
– Enxerto da terra,
meio casmurra.
Trabalhadeira.
Madrugadeira.

Analfabeta.
De pé no chão.
Bem parideira.
Bem criadeira.
Seus doze filhos
Seus vinte netos.

Vive dentro de mim
a mulher da vida.
Minha irmãzinha
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida –
a vida mera das obscuras.

3 – Ressalva

Este livro foi escrito
por uma mulher
que no tarde da Vida
recria a poetiza sua própria
Vida.

Este livro
foi escrito por uma mulher
que fez a escalada da
Montanha da Vida
removendo pedras
e plantando flores.

Este livro:
Versos… Não.
Poesia… Não.
Um modo diferente de contar velhas estórias.

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4 – Meu Destino

Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…

5 – Becos de Goiás

Becos da minha terra…
Amo tua paisagem triste, ausente e suja.
Teu ar sombrio. Tua velha umidade andrajosa.
Teu lodo negro, esverdeado, escorregadio.
E a réstia de sol que ao meio-dia desce fugidia,
e semeias polmes dourados no teu lixo pobre,
calçando de ouro a sandália velha, jogada no monturo.

Amo a prantina silenciosa do teu fio de água,
Descendo de quintais escusos sem pressa,
e se sumindo depressa na brecha de um velho cano.
Amo a avenca delicada que renasce
Na frincha de teus muros empenados,
e a plantinha desvalida de caule mole
que se defende, viceja e floresce
no agasalho de tua sombra úmida e calada.

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6 – Ofertas de Aninha (Aos moços)

Eu sou aquela mulher
a quem o tempo
muito ensinou.
Ensinou a amar a vida.

Não desistir da luta.
Recomeçar na derrota.
Renunciar a palavras e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos.
Ser otimista.

Creio numa força imanente
que vai ligando a família humana
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.

Creio na solidariedade humana.
Creio na superação dos erros
e angústias do presente.

Acredito nos moços.
Exalto sua confiança,
generosidade e idealismo.

Creio nos milagres da ciência
e na descoberta de uma profilaxia
futura dos erros e violências
do presente.

Aprendi que mais vale lutar
do que recolher dinheiro fácil.
Antes acreditar do que duvidar.

7 – Mulher da Vida

Mulher da Vida,
Minha irmã.
De todos os tempos.

De todos os povos.
De todas as latitudes.

Ela vem do fundo imemorial das idades
e carrega a carga pesada
dos mais torpes sinônimos,
apelidos e ápodos:

Mulher da zona,
Mulher da rua,
Mulher perdida,
Mulher à toa.

Mulher da vida,
Minha irmã.

8 – Conclusões de Aninha

Estavam ali parados. Marido e mulher.
Esperavam o carro. E foi que veio aquela da roça
tímida, humilde, sofrida.

Contou que o fogo, lá longe, tinha queimado seu rancho,
e tudo que tinha dentro.

Estava ali no comércio pedindo um auxílio para levantar
novo rancho e comprar suas pobrezinhas.
O homem ouviu. Abriu a carteira tirou uma cédula,
entregou sem palavra.

A mulher ouviu. Perguntou, indagou, especulou, aconselhou,
se comoveu e disse que Nossa Senhora havia de ajudar
E não abriu a bolsa.
Qual dos dois ajudou mais?

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9 – Aninha e Suas Pedras

Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Você gostou dessa excelente seleção de poemas de Cora Coralina para inspirar o seu dia e conhecer mais das obras da escritora? Então não perca mais tempo e compartilhe com seus amigos e familiares essas excelentes palavras de amor.

Claudio Bernardo
Escrito por

Claudio Bernardo

Redator Web desde 2017, um leitor voraz e apaixonado por livros de ficção histórica.