Os fatos não fazem as pessoas mudarem de ideia, entenda o que faz
A dúvida nem sempre é resolvida em face dos fatos, mesmo para os mais esclarecidos entre nós, por mais críveis e convincentes que sejam esses fatos.
Se você tivesse me perguntado – como você faz alguém mudar de ideia? – dois anos atrás, eu teria lhe dado uma resposta diferente.
Como ex-cientista, eu teria advertido você a confiar em fatos objetivos e estatísticas. Desenvolva um argumento forte para o seu lado, reforce com dados brutos, frios e irrefutáveis, e pronto!
Afogar a outra pessoa com fatos, presumi, era a melhor maneira de provar que o aquecimento global é real, a guerra contra as drogas fracassou ou a atual estratégia de negócios adotada por seu chefe avesso ao risco e com pouca imaginação não está funcionando.
Desde então, descobri um problema significativo com essa abordagem.
Ela não funciona.
A mente não segue os fatos. Fatos, como John Adams coloca, são coisas teimosas, mas nossas mentes são ainda mais teimosas.
A dúvida nem sempre é resolvida em face dos fatos, mesmo para os mais esclarecidos entre nós, por mais críveis e convincentes que sejam esses fatos.
Como resultado do bem documentado viés de confirmação, tendemos a subvalorizar as evidências que contradizem nossas crenças e supervalorizamos as evidências que as confirmam.
Nós filtramos verdades e argumentos inconvenientes do lado oposto. Como resultado, nossas opiniões se solidificam e fica cada vez mais difícil romper com padrões estabelecidos de pensamento.
Acreditamos em fatos alternativos se eles apoiarem nossas crenças pré-existentes.
Executivos medíocres agressivamente permanecem no cargo porque interpretamos as evidências para confirmar a precisão de nossa decisão inicial de contratação.
Os médicos continuam pregando os males da gordura dietética, apesar das pesquisas emergentes em contrário.
Se tiver alguma dúvida sobre o poder do viés de confirmação, pense na última vez que você fez uma pergunta no Google.
Você leu meticulosamente cada link para obter uma imagem objetiva ampla? Ou você simplesmente vasculhou os links procurando a página que confirma o que você já acreditava ser verdade?
E vamos encarar isso, você sempre encontrará essa página, especialmente se estiver disposto a ir até a página 12 nos resultados da pesquisa do Google.
Se os fatos não funcionam, como você muda de ideia – seja a sua própria ou a do seu vizinho?
Dê uma saída para a mente
Somos relutantes em reconhecer erros. Para evitar admitir que estávamos errados, nos torceremos em posições que até os iogues experientes não podem manter.
A chave é enganar a mente, dando a ela uma desculpa.
Convença sua própria mente (ou do seu amigo) que sua decisão anterior ou crença anterior era a certa, dado o que você sabia, mas agora que os fatos subjacentes mudaram, o mesmo deve acontecer com a mente.
Mas em vez de dar a mente uma saída, muitas vezes partimos para um soco no estômago.
Nós menosprezamos a outra pessoa (“eu avisei”). Nós ostracizamos (“bando de deploráveis”). Nós ridicularizamos (“que idiota”).
“Rir da tragédia dos outros” pode ser seu passatempo favorito, mas tem o efeito contraproducente de ativar as defesas da outra pessoa e solidificar suas posições.
No momento em que você menospreza a mente por acreditar em algo, você perdeu a batalha. Nesse ponto, a mente vai cavar mais fundo em vez de ceder.
Uma vez que você tenha igualado as crenças de alguém com a idiocracia, fazer essa pessoa mudar de ideia exigirá nada menos do que uma admissão de que ela é pouco inteligente.
E essa é uma admissão que a maioria das mentes não está disposta a fazer.
Os democratas nos Estados Unidos já estão caindo nessa armadilha.
Eles não vão vencer as eleições presidenciais de 2020 convencendo os partidários de Donald Trump de que eles estavam errados em votar nele em novembro passado ou que são responsáveis por seus fracassos no cargo.
Em vez disso, como o autor e professor de psicologia Robert Cialdini explica, os democratas devem oferecer aos partidários de Trump uma maneira de sair de seu compromisso anterior enquanto se salvam:
“Bem, é claro que você estava em posição de tomar essa decisão em novembro porque ninguém sabia sobre o X.”
Os colombianos adotaram uma estratégia semelhante na década de 1950, quando a ditadura de Rojas entrou em colapso.
Como explico em meu próximo livro, embora os militares colombianos tenham sido cúmplices dos abusos do regime de Rojas, os civis habilmente evitaram apontar quaisquer dedos para os militares.
Em vez disso, conseguiram levar os militares de volta ao quartel com sua dignidade intacta. Eles reconheceram que precisariam da cooperação das forças armadas tanto durante o processo de transição como em suas consequências.
Então, eles ofereceram uma narrativa alternativa para o consumo público, que separou as forças armadas do regime de Rojas.
Nessa narrativa, que os líderes militares acharam muito mais fácil de engolir, foi a “família presidencial” e alguns civis corruptos próximos a Rojas – não oficiais militares – que foram responsáveis pelos excessos do regime.
Se eles tivessem uma abordagem diferente, uma ditadura militar – e não a democracia – poderia ter resultado.
Suas crenças não são você.
Nos meus primeiros anos na academia, eu costumava ficar na defensiva quando alguém desafiava um dos meus argumentos durante uma apresentação.
Meu batimento cardíaco disparava, eu ficava tenso, e minha resposta refletia o desdém com o qual eu via a questão antagônica (e o questionador).
Eu sei que não estou sozinha aqui. Todos nós nos identificamos com nossas crenças e argumentos.
Esse é o meu negócio.
Esse é o meu artigo.
Essa é a minha ideia.
Mas aqui está o problema. Quando suas crenças estão entrelaçadas com sua identidade, mudar de ideia significa mudar sua identidade. Isso é realmente difícil.
Uma solução possível, e uma que adotei em minha vida, é colocar uma separação saudável entre você e seus produtos. Mudei meu vocabulário para refletir essa mudança mental.
Em conferências, em vez de dizer: “Neste artigo, eu argumento…”, comecei a dizer “Este artigo argumenta…”
Esse sutil ajuste verbal me fez pensar que meus argumentos e eu não eram o mesmo. Obviamente, fui eu quem surgiu com esses argumentos, mas uma vez que eles estavam fora do meu corpo, eles ganharam uma vida própria.
Eles se tornaram objetos abstratos separados que eu podia ver com alguma objetividade.
Não era mais pessoal. Era simplesmente uma hipótese provada errada.
Exercite seu músculo de empatia
Reproduzir a Verdade Inconveniente, de Al Gore, repetidas vezes para uma sala cheia de trabalhadores da indústria automobilística de Detroit não mudará a opinião deles sobre o aquecimento global, se eles estiverem convencidos de que sua agenda os colocará fora do trabalho.
Os humanos operam em frequências diferentes.
Se alguém discorda de você, não é porque eles estão errados e você está certo. É porque eles acreditam em algo que você não acredita.
O desafio é descobrir o que é essa coisa e ajustar sua frequência.
Se o emprego é a principal preocupação do trabalhador automotivo de Detroit, mostrar a ele imagens de pinguins em extinção (por mais adoráveis que sejam) ou o derretimento das geleiras da Antártida não o levará a lugar nenhum.
Em vez disso, mostre como a energia renovável proporcionará segurança no emprego a seus netos. Agora você tem a atenção dele.
Saia da sua câmara de eco.
Nós vivemos em uma câmara de eco perpétua.
Nós adicionamos como amigos pessoas como nós no Facebook. Nós seguimos pessoas como nós no Twitter. Nós lemos as agências de notícias que estão na mesma frequência política que nós.
Isso significa que nossas opiniões não estão sendo testadas com tanta frequência quanto deveriam.
Faça questão de fazer amizade com pessoas que não concordam com você. Se exponha a ambientes onde suas opiniões podem ser desafiadas, por mais desconfortável e desajeitado que isso possa ser.
Marc Andreessen tem um ditado que eu amo: “Crenças fortes, frouxamente mantidas.” Acredite fortemente em uma ideia, mas esteja disposto a mudar sua opinião se os fatos mostrarem o contrário.
Pergunte a si mesmo: “Que fato mudaria uma das minhas opiniões mais fortes?” Se a resposta for “nenhum fato mudaria minha opinião”, você está com problemas.
Uma pessoa que não está disposta a mudar de ideia, mesmo com uma mudança subjacente nos fatos, é, por definição, fundamentalista.
No final, é preciso coragem e determinação para ver a verdade em vez do conveniente.
Mas vale a pena o esforço.
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Este artigo é uma tradução do Awebic do texto originalmente publicado em The Ladders, escrito por Ozan Varol.
Imagens: pexels.com e pixabay.com
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Analista de SEO e editora do Awebic e Receitinhas. Escrevendo desde sempre, formada em jornalismo, fotógrafa por hobby, dando as caras na centraldoleitor.com, apaixonada por gatos, café e Harry Potter; Amandinha é leitora fissurada e estudante ininterrupta antes de qualquer coisa.