Por que precisamos levar a dor emocional tão a sério quanto a dor física
O sofrimento está ao nosso redor. É hora de abrirmos nossos olhos e vermos, pois só assim poderemos realmente curá-lo e seguir em frente.
Trabalhei com dezenas de pessoas de coração partido nos últimos vinte anos, e me lembro de muitas delas vividamente.
Isso não é surpreendente, pois a facilidade com que nos lembramos de eventos é fortemente influenciada por sua intensidade, e a emoção crua e a angústia terrível de uma pessoa cujo coração acabou de se partir é difícil de esquecer.
Isso é especialmente verdadeiro quando o paciente sentado à minha frente é adolescente.
Um paciente adolescente se destaca em minha mente, pois sua história resumia quase tudo o que há de errado com a forma como atualmente consideramos o sofrimento.
Greg era um jovem inteligente, gay, com dezessete anos de idade, que recentemente tinha assumido sua homossexualidade na escola. Greg passou dois anos nutrindo uma paixão por Devon, um sênior e um dos outros dois garotos gays assumidos de sua escola.
Um mês depois de se assumir, Greg finalmente criou coragem para ir até Devon durante o almoço e sugerir que eles saíssem. Como acontece com muita frequência com os adolescentes, a rejeição de Devon foi rápida e desnecessariamente cruel.
Se sentindo humilhado e absolutamente chateado, Greg seguiu para sua aula de história, na qual ele faria uma prova difícil.
O melhor amigo de Greg (que era hétero) sempre sentou ao lado de Greg na aula de história, e Greg esperava ter alguns momentos para conversar com ele e receber apoio antes do início da prova.
Mas quando Greg chegou na sala de aula, seu amigo não estava lá. Como ele descobriu mais tarde, seu amigo tinha torcido o tornozelo jogando basquete durante o intervalo.
Quando a professora de história viu o tornozelo inchado, ela o dispensou do teste e o mandou para a enfermaria. Sozinho e sem apoio, Greg passou o tempo todo lutando contra as lágrimas enquanto tentava se concentrar em sua prova.
Sabendo que ele tinha ido mal, Greg se aproximou da professora de história depois da aula para explicar por que ele teve dificuldade em se concentrar. Mas em vez de responder com empatia ou compaixão, a professora de Greg o repreendeu por “inventar desculpas”.
Esta é a mensagem que estamos enviando às crianças do ensino médio sobre a dor emocional versus dor física.
Se o seu tornozelo inchar um pouco, seu desconforto físico será notado e você terá compaixão e consideração.
Mas se o seu coração for arrancado do peito e a dor emocional que você sentir for tão severa que você nem consegue se concentrar, você não receberá nenhum dos dois.
Se é assim que educamos nossa juventude, é de se surpreender que o sofrimento seja tão mal compreendido e que a dor emocional seja ignorada com tanta frequência?
E se sua escola não lhe deu qualquer ferramenta para lidar com alunos cujo coração acabou de ser partido, deveríamos nos surpreender de a professora de Greg ter respondido como respondeu?
Eu não estou defendendo que dispensemos todo adolescente que afirma ter um coração partido de fazer provas.
Dada a frequência com que os adolescentes têm seus corações partidos, acabaríamos com mais alunos ficando de fora do que fazendo as provas.
Sim, separar o sofrimento psicológico e emocional normativo, que os adolescentes experimentam diariamente, de uma situação excepcional, urgente ou aguda, não é, de maneira alguma, uma decisão fácil.
Mas Greg não era alguém com seus sentimentos feridos de uma rejeição ou separação que aconteceu dias ou semanas antes. Ele era um estudante aplicado, derramando lágrimas em óbvia dor emocional.
Precisamos desesperadamente de um diálogo mais aberto sobre o quão gravemente o coração partido afeta nossas emoções e funcionamento.
E para que essas discussões sejam produtivas, temos que rejeitar a noção de que há algo de infantil, constrangedor ou inadequado em relação a sentir angústia quando nosso coração está partido, porque o sofrimento é devastador, em qualquer idade.
Sofremos uma dor emocional quase insuportável por dias, semanas e até meses a fio. Nosso corpo experimenta estresses que podem prejudicar nossa saúde a curto e a longo prazo.
Nossa tristeza ativa circuitos em nosso cérebro, que causam sintomas de abstinência similares àqueles experimentados por pessoas que são dependentes de cocaína ou heroína.
Nossa capacidade de nos concentrar, pensar criativamente, resolver problemas e, em geral, funcionar em nossa capacidade regular, se torna significativamente prejudicada.
Nossas vidas são viradas de cabeça para baixo, nos questionando quem somos e como nos definimos daqui para frente.
O fato de tudo isso não ser virtualmente reconhecido, se não inteiramente ignorado pela sociedade, torna nossa provação muito mais desafiadora do que já é.
Nossos amigos e entes queridos podem nos oferecer conforto e apoio, mas apenas por um tempo limitado. Nossas escolas, instituições, locais de trabalho e até mesmo nosso sistema de saúde não conseguem sequer fazer isso (apesar das ações de alguns patrões ou empregadores).
O que torna esse estado de coisas tão lamentável e verdadeiramente inaceitável é que não somos fundamentalmente cegos para a tristeza.
Quando um parente de primeiro grau morre, especialmente se for um cônjuge, pai ou filho, geralmente nos é permitido tempo livre, simpatia, compaixão e um entendimento tácito de que não estaremos funcionando da melhor forma enquanto estamos de luto.
Da mesma forma, os empregadores tendem a ser, pelo menos, solidários e compreensivos quando os informamos de que estamos passando por um divórcio difícil.
Nossa tristeza, nesses casos, é reconhecida e sancionada, independentemente de sua magnitude.
Mas outros tipos de tristeza, como os tipos de sofrimentos que exploramos aqui, não são reconhecidas nem sancionadas. Elas são desprovidas de direitos, independentemente de quão emocionalmente devastados estamos.
Não apenas somos privados de apoio e compaixão, como somos forçados a gastar nossas reservas emocionais cada vez menores para esconder o quão desamparado nos sentimos, para não sermos julgados por ser excessivamente emocionais, imaturos ou fracos de caráter.
Minha preocupação sobre como marginalizamos esse tipo de sofrimento não é apenas um reflexo do meu trabalho com pacientes de coração partido.
Estudos sobre a tristeza desprovida de direitos – e há muitas delas – descobriram que, quando as sociedades não sancionam a tristeza, internalizamos esses padrões e consideramos nossas próprias emoções e reações como menos legítimas.
Também foi descoberto que essa falta de validação externa e interna impacta negativamente nossa saúde psicossocial e aumenta nosso risco de desenvolver depressão clínica.
Se a dor emocional fosse visível, o desgosto e o sofrimento que ela causa não permaneceriam por muito tempo desprovidos de direitos.
Quando chegamos ao trabalho ou à escola com uma perna quebrada, um braço e até um dedo quebrado, muitas vezes recebemos mais atenção, preocupação e consideração, pois as pessoas podem ver as talas ou ataduras, do que provavelmente quando nosso coração está partido.
Elas estão lá como evidência de que nos machucamos. E, no entanto, ossos quebrados não infligem nenhuma das profundas deficiências cognitivas, emocionais e psicológicas que um coração partido inflige.
A maioria das empresas hesita em institucionalizar os subsídios por “motivos de saúde emocional”, exceto grandes diagnósticos mentais, porque temem que os funcionários tirem proveito deles injustamente.
No entanto, suas suposições são tanto míopes quanto equivocadas.
Por não dar aos empregados o tempo e o apoio que precisam para se curar, as empresas ficam carregando o fardo de trabalhadores menos produtivos, que estão funcionando abaixo de sua capacidade por longos períodos de tempo.
Se as empresas reconhecessem o impacto debilitante do desgosto e dessem a seus funcionários tempo para o luto, para receber apoio e se recuperar, isso permitiria que os funcionários retornassem à produtividade total mais cedo do que poderiam de outra forma.
Em vez de esconder nossa dor emocional de nossos colegas, professores e empregadores, poderíamos curá-la mais rapidamente e minimizar nossos períodos de produtividade comprometida.
E se as escolas aceitassem o fato básico de que a dor emocional é tão importante, legítima e debilitante quanto a dor física, elas poderiam treinar seus educadores para serem mais solidários e compassivos com os estudantes.
Não há razão para não ensinarmos ao nosso público cativo de alunos do ensino fundamental e médio como evitar os erros que pioram nossa dor emocional e como adotar os hábitos que promovem a saúde emocional e a cura.
Mas nós não fazemos isso.
Se a dor emocional fosse visível, todos nós teríamos uma conduta muito diferente. Encontraríamos maneiras mais amigáveis de romper com a pessoa com quem namoramos e seríamos menos cruéis ao rejeitar pessoas que expressassem interesse em nós.
Nós mostraríamos mais preocupação quando víssemos alguém sentado sozinho, com um olhar angustiado no rosto. Seríamos mais pacientes e menos críticos quando um amigo ou ente querido não conseguisse superar um coração partido.
E quando nosso próprio coração se partisse, teríamos mais autocompaixão, nos sentiríamos com menos vergonha em relação a nossa aflição e ficaríamos mais abertos a pedir a ajuda de que precisamos.
Por enquanto, porém, devemos nos lembrar de que, apesar da falta de apoio institucional, não estamos totalmente indefesos contra os ataques do sofrimento.
Há coisas que podemos fazer – e coisas que devemos evitar – para aliviar nossa dor emocional, acelerar nossa recuperação e curar as feridas emocionais e psicológicas que sofremos.
Entender que tipos de erros devemos evitar e como evitar ficar presos, e saber quais ações devemos tomar e quais hábitos adotar para nos curar, significa que não estamos mais à mercê do único ingrediente curativo sobre o qual não temos controle: o tempo.
Nós podemos ajudar nossos corações a se curarem, e podemos ser mais proativos e apoiadores, ajudando outros corações partidos a se curarem também.
O sofrimento está ao nosso redor. É hora de abrirmos nossos olhos e vermos, pois só assim poderemos realmente curá-lo e seguir em frente.
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Este artigo é uma tradução do Awebic do texto originalmente publicado em Ideas TED escrito por Guy Winch.
Imagens: pexels.com e pixabay.com
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Analista de SEO e editora do Awebic e Receitinhas. Escrevendo desde sempre, formada em jornalismo, fotógrafa por hobby, dando as caras na centraldoleitor.com, apaixonada por gatos, café e Harry Potter; Amandinha é leitora fissurada e estudante ininterrupta antes de qualquer coisa.