Haitiano preso injustamente tem ajuda de interprete para depor no julgamento para ser inocentado
Após passar 16 meses preso por um crime que não cometeu, haitiano recebe a ajuda de um intérprete e consegue provar a sua inocência em julgamento.
Ser estrangeiro em um país onde você não fala o idioma local pode se tornar um pesadelo em tarefas simples do dia a dia. Afinal, a comunicação se torna falha: você não entende as pessoas e as pessoas não te entendem direito.
Tantos entraves podem levar a problemas maiores, como um crime sem a explicação plena do acusado! E foi exatamente isso o que aconteceu com um imigrante haitiano, que não teve a sua identidade divulgada.
Preso injustamente pelo suposto assassinato da esposa, ele ficou detido 16 meses em uma penitenciária para estrangeiros e só foi conseguir explicar o mal-entendido com a ajuda de Bruno Pinto Silva, um mestrando que pesquisa o crioulo haitiano no Departamento de Linguística da USP e tem fluência no idioma.
Em entrevista ao site UOL, ele explicou que é auxiliar da Justiça em São Paulo e foi chamado pelo Fórum Criminal da Barra Funda para ajudar no caso. Bruno só foi ter contato com o homem acusado no dia do julgamento e para se inteirar do caso antes, ele obteve acesso aos autos processuais, pelos quais ficou sabendo que o haitiano estava sendo acusado de assassinar a esposa.
No entanto, a acusação foi baseada no depoimento de uma única testemunha: um conterrâneo do imigrante, que no caso fala português.
No fórum, o mestrando traduziu tudo o que estava sendo falado e, finalmente, todos puderam saber a versão do acusado, que era bem diferente da que tinha sido feita pela única testemunha até então. Com o depoimento uma grande reviravolta surgiu: o outro haitiano foi apontado pelo acusado como o real autor do crime!
Segundo Bruno, ao perceber que a história do homem que passou 16 meses preso fazia sentido e se encaixava com a perícia feita, o promotor do caso pediu a absolvição do réu, que voltou à penitenciária apenas para pegar suas roupas.
PROFISSIONAL COMPROMETIDO
Após o julgamento, o intérprete afirmou que como profissional ele precisa ser neutro diante do caso, pois está lá apenas para fazer o seu trabalho que é possibilitar a comunicação entre as partes.
“Apesar da grande repercussão dessa história, sinto que isso não deveria ser a exceção, mas a regra. Ou seja, que os imigrantes tenham acesso a intérpretes para que sejam julgados devidamente“, afirmou.
De acordo com Bruno, apesar de 90% do vocabulário do crioulo haitiano ter vindo do francês, a estrutura sintática para a construção das frases nos dois idiomas é completamente diferente. “Quem fala francês não entende crioulo haitiano e vice-versa. Algo semelhante ao que ocorre com o português e o espanhol, por exemplo. A língua francesa é falada por uma minoria dos haitianos, entre 5% e 7% da população“, finalizou.
O conhecimento realmente tem o poder de mudar o mundo e, em muitos casos, uma vida!
Fonte: UOL
Jornalista e redatora. Amante de gatos, livros, moda e receitinhas.