Após espera de 7 meses, família do Afeganistão se reencontra no Brasil

Foram sete longos meses de espera até o tão sonhado reencontro. Um grupo de refugiados da mesma família saiu do Afeganistão para encontrar os pais no Brasil. Agora, podem recomeçar a vida e deixar para trás um passado de sofrimento e dor.

É muito provável que você, assim como grande parte do mundo, tenha ficado chocado com as cenas que vimos no Afeganistão ano passado. Por trás das manchetes e imagens da tomada de poder pelo Talibã, estão nomes e rostos de pessoas reais.

Entre elas, Najiba Ibrahimi, uma moça de 36 anos recém-chegada ao Brasil junto com a sua filha adolescente, com o seu irmão Abdullah e uma prima.

Depois de quase 7 meses fugindo e passando por situações muito difíceis, Najiba agora tem a oportunidade de começar uma nova vida ao lado dos pais, Sorab Kokhan, de 65 anos, e Raihana Ibrahimi, de 48 anos.

Os dois são um casal de refugiados donos de um pequeno restaurante de comidas típicas no bairro da Liberdade, em São Paulo. A história foi contada em detalhes pela Folha de São Paulo.

Foto do tão esperado reencontro. De costas, estão Sorab e Raihana, que abraçam os filhos Najiba e Abdullah (imagem: Bruno Santos/Folhapress)

Sorab já vinha tentando trazer os seus parentes há dois anos, mas nunca teve sucesso. Quando ficou claro que o Talibã ia tomar o poder no Afeganistão, foi pessoalmente ao seu país de origem tentar resgatar os filhos. Um fator que aumentava ainda mais sua preocupação é que a família toda é da etnia hazara, a mais perseguida pelo grupo terrorista.

“Eles passaram por montanhas, vales, sempre escondidos porque os talibãs estão por toda parte. Em cada trecho, não sabíamos se eles os iriam deixar passar ou não. Tiveram que cruzar a fronteira [com o Paquistão] clandestinamente, as meninas usavam burca e entraram, mas meu filho acabou sendo preso logo depois de atravessar”, explica Sorab.

 

O rapaz foi deportado para o Afeganistão e teve que recomeçar todo o trajeto na esperança de conseguir um visto de refugiado. Enquanto a família fazia o processo burocrático na embaixada brasileira no Paquistão para conseguir a documentação, Sorab voltou para o Brasil. Mas o seu coração e pensamento ficaram lá, com os familiares.

A história já era impactante por si só, mas ganhou um contorno inesperado quando uma cliente brasileira, Daniele Soares, foi ao restaurante da família em São Paulo e encontrou Raihana chorando. O motivo: ela estava muito preocupada e não conseguia mais dormir pensando no que poderia acontecer com os seus entes queridos.

Comovida, Daniele decidiu ajudar. Com o apoio de amigos, de um advogado e outros voluntários, conseguiu trazer a família para o Brasil. “Foi um longo e árduo processo até esse desfecho. Não tem como não se emocionar”, diz, em entrevista à Folha de São Paulo.

Uma nova vida

Como era de se imaginar, o abraço no portão de desembarque no aeroporto foi cheio de emoção e lágrimas. Um reencontro tão esperado que veio depois de tanta luta, sofrimento e esperança em dias melhores. No coração de um pai e uma mãe, esses meses devem ter parecido verdadeiros séculos.

Depois de sete longos meses, o reencontro (Imagem: Guilherme Balza/Globonews)

O que importa é que agora a família está reunida e em segurança. “Quero que eles tenham uma vida estável, em paz. E que pouco a pouco esqueçam essa angústia que viveram”, afirma Sorab sobre os seus filhos e familiares recém-chegados.

Marcelo Silva
Escrito por

Marcelo Silva

Jornalista apaixonado por contar histórias. Paranaense radicado em São Paulo. Louco por viagens e experiências novas.