Em feito inédito, dupla de mulheres ganha Nobel de Química com técnica de engenharia genética

Jennifer e Emmanuelle, vencedoras do Nobel de Química, desenvolveram um sistema de edição genômica, um tipo de engenharia genética que permite a manipulação do DNA.

Um dos mais prestigiados prêmios de reconhecimento das habilidades humanas – o Prêmio Nobel – consagrou, pela primeira vez em 125 anos, duas mulheres cientistas, Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna, com o Nobel de Química.

Elas foram reconhecidas pelo trabalho com a edição de genoma e o desenvolvimento de ferramentas para editar o DNA. Elas dividirão o prêmio em dinheiro avaliado em R$ 6,3 milhões.

Jennifer e Emmanuelle descobriram o Crispr-Cas9 (ou Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), um sistema que permite a edição genômica, isto é, um tipo de engenharia genética em que o DNA é inserido, substituído, ou removido de um genoma através da ‘tesoura molecular’.

Com essa ferramenta, será possível revolucionar o tratamento e prevenção das doenças hereditárias.

Emmanuelle é uma conceituada professora francesa do departamento Max Planck para a ciência de patógenos. Ela conta que receber o Nobel foi como uma cereja do bolo para a sua carreira e que, ao receber a notícia, parecia estar numa ‘ficção’. A pesquisadora exaltou também o fato de ser a primeira vez em que o cobiçado prêmio será dividido entre duas mulheres.

Eu espero que isso passe uma mensagem positiva especialmente para jovens garotas que gostariam de seguir o caminho da ciência… e mostrar que mulheres na ciência também podem ter um impacto na pesquisa que estão conduzindo“, disse Emmanuelle. “Não é só para mulheres, mas vemos uma clara falta de interesse em seguir o caminho científico, o que é muito preocupante“, completa.

Eureka!

O CRISPR foi desenvolvido graças à uma pesquisa que Emmanuelle estava fazendo sobre a bactéria Streptococcus pyogenes, responsável por infecções como faringite bacteriana e escarlatina.

No estudo, a pesquisadora descobriu a tracrRNA, uma molécula até então desconhecida que faz parte do sistema de defesa imunológica do organismo, conhecido como Cripr-Cas. Esse sistema desarma a doença fazendo o corte (ou clivagem) do seu DNA, como se fosse uma “tesoura genética”.

Ainda em 2011, ano em que o trabalho da francesa foi publicado, ela se uniu à Jennifer Doudna, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, para levar o estudo adiante.

Nos últimos anos, elas recriaram em laboratório essa tesoura genética, sendo capazes de simplificar no processo os componentes moleculares da tesoura para que ela se tornasse mais fácil de usar.

Chamada coloquialmente de ‘tesoura bacteriana’, o instrumento é capaz de reconhecer naturalmente o DNA do vírus. Mais: é possível reprogramá-la para cortar qualquer molécula de DNA de maneira pré-determinada.

Desde 2012, o uso do CRISPR tem contribuído para o desenvolvimento de outras pesquisas inovadoras, sobretudo na área de terapias contra o câncer.

De quebra, essa tecnologia é a chave para o tratamento, prevenção e cura de doenças hereditárias. Estudos sobre o assunto têm se multiplicado com o passar dos anos, especialmente para a anemia falciforme.

Gabriel Pietro
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