Com 76 anos, idosa se forma em Pedagogia e quebra paradigmas!
Uma idosa de 76 anos enfrentou dificuldades e preconceito para realizar seu sonho e se formar em pedagogia em cidade do interior da Bahia.
Embora que para as novas gerações a faculdade já seja uma realidade bem comum, o mesmo não podemos dizer das gerações anteriores. Principalmente aquelas que viviam da agricultura para a subsistência.
Neste contexto saber ler e escrever já era uma grande conquista. Ter o fundamental I ou II ainda mais. Eram conquistas restritas a pequenos grupos. As pessoas comuns abandonavam a escola muito cedo e partiam para trabalhar com comércio ou roçado sem olhar para trás.
Esse poderia ser o enredo da história de Maria Clara de Santana, ou simplesmente Dona Maria. Porém, aos 76 anos, ela alcançou um feito que mudou totalmente sua história e serve de inspiração.
Ainda aos 21 anos abandonou o ensino fundamental para se casar e trabalhar com comércio. Com o casamento vieram sucessivos filhos e os cuidados domésticos que mantiveram-na longe da escola. Desse casamento vieram onze filhos, dezenove netos e dois bisnetos.
O marido era um um homem cheio de preconceitos que pouco via utilidade na escola para os filhos, menos ainda para a esposa. Mas com luta e persistência Maria deu todas as condições para que os filhos não abandonassem os estudos ou fossem impedidos de estudar pelo pai.
Quando completou quarenta anos, chegou em sua cidade, Cipó, interior da Bahia, o programa EJA (um programa voltado à educação de jovens e adultos fora da idade escolar regular). Sem perda de tempo, ela foi lá e se matriculou visando concluir o seu abandonado ensino fundamental I. Foi, se inscreveu e concluiu. Era a retomada de sua trajetória.
O sonho não poderia ficar na gaveta!
Aos cinquenta anos, com a justificativa de que iria matricular o filho, foi até à instituição, matriculou o filho e a si mesma. Queria continuar os estudos. A escolha não contava com o apoio do marido. O filho não foi adiante, abandonou a escola apesar do apoio da mãe.
“Rapaz, vá procurar o que fazer. Para que fazer ginásio? Você já tem o primário. Quer o quê mais?”. Relembra a fala de seu esposo ao saber da nova.
Dona Maria persistiu e foi até o fim. Formou-se no fundamental II e não quis mais parar, ambicionava o ensino médio e fez. Não apenas o ensino médio, mas este na modalidade magisterial que lhe dava qualificação para ensinar.
Conseguiu um emprego numa creche, não se satisfez; ela queria ensinar. O desejo foi atendido, ganhou uma turma de trinta alunos e lecionou por sete anos consecutivos. A Maria semi alfabetizada agora era professora.
Se engana quem pensa que ela se deu por satisfeita. Por problemas com a mudança da gestão, se afastou da escola, mas ao saber da notícia de que sua cidade teria uma faculdade, não se conteve, sabia que ali era o seu lugar. Fez sua matrícula.
Quatro anos depois, após noites em claro de muito estudo, cuidados com o marido doente, que faleceu nesse meio tempo; Dona Maria se formava em Pedagogia aos 76 anos.
“Só deu eu. Falei, cantei, fui oradora. Achei que iam mangar de mim, mas eu fui a estrela! Eu fiquei tão bonita. Já com 76 anos, mas fiquei parecendo que tinha a idade de minhas filhas. […] Quero trabalhar no ano que vem, mas só com ensino presencial. E se tiver pós-graduação, eu ainda vou lá!”. Afirma a formada Dona Maria.
Deixando-nos a lição que nunca é tarde para perseguir um sonho.
Formado em História, entusiasta da literatura, apaixonado por artes.