Cancelamento virtual: a crueldade por trás da irredutível prática
Hoje em dia cometer erros é praticamente um atestado de óbito social, principalmente se você é famoso. Conheça a cultura do cancelamento.
Certa noite, enquanto cumprimentava os participantes do Big Brother Brasil 20, Tiago Leifert lançou uma notícia. Segundo o apresentador, todos os ali presentes já haviam sido cancelados pelo menos uma vez no decorrer da edição, inclusive ele. Embora os internautas tenham entendido de imediato, a tradicional família brasileira cuja maioria dos integrantes não frequenta o Twitter, provavelmente não entendeu a piada. Bom, na verdade nem podemos definir isso como uma piada. Visto que o cancelamento deixou de ser um meme e passou a ser tratado como uma forma de linchamento virtual, seria errado explorá-lo de forma cômica. Inicialmente surgido como uma forma de manifesto contra alguém que havia feito algo errado, o cancelamento online alcançou uma proporção inimaginável. Como resultado disso, qualquer pessoa pública que cometa um equívoco hoje, corre o risco de ser cancelada.
Só para ilustrar e te deixar a par da situação, resolvemos citar algumas celebridades que já foram canceladas. Alessandra Negrini, MC Gui, Carlinhos Maia, Anitta, Nego do Borel, Silvio Santos, Drake e Raul Seixas (sim, não é preciso estar vivo para ser cancelado) são alguns nomes anulados online. Surpreendentemente, a maioria desses artistas manteve sua popularidade apesar dos erros. Contudo, essa prática de cancelamento propõe a exclusão do usuário das redes, ou seja, uma forma de marginalização. Em tempos onde critérios para atingir a fama estão cada vez mais acessíveis, acabamos vendo muitas pessoas sem preparo acumulando milhões de seguidores. Sendo assim, criamos um ciclo, onde os internautas que tornam pessoas inexperientes famosas, são os mesmos a cancelarem elas na primeira oportunidade.
Portanto, qual o sentido do cancelamento? Bom, é exatamente essa a questão. Aparentemente essa prática tem como objetivo apenas a marginalização daqueles que erraram. Sendo assim, todo o conceito de manifesto, presente no sentido original de cancelamento, acabou se tornando fútil.
Militância sem diálogo não é militância
Assim como dissemos acima, o cancelamento surgiu como uma forma de protesto virtual. Quando um cantor, por exemplo, cometia algum deslize mal visto aos olhos sociais, ele era cancelado. Contudo, essa era a melhor forma de lidar com o equívoco? Não mesmo. Dizemos isso tendo em mente que, apesar da melhor das intenções, de nada serve uma intervenção se não há espaço para dialogo. O que estamos querendo dizer é que, muito mais eficaz do que excluir alguém por apoiar um político tirano ou dizer algo homofóbico, é tentar explicar o porquê dele estar errado e como pode trabalhar isso. Sabemos que ninguém tem a obrigação de pegar na mão de gente grande e ensinar o que é certo ou errado. Contudo, da mesma forma, ninguém tem o direito de bancar juri, juiz e executor nas redes.
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