Brasileira é primeira negra a ganhar prêmio Internacional de Energia Atômica
Estudante de física médica da USP, Ana Gabryele, natural de Salvador, se torna a primeira mulher negra brasileira a receber prêmio de Instituto Espacial.
Baiana e aluna da Universidade Federal de São Paulo (USP), estudante de física médica, de 29 anos, se torna a primeira negra a ganhar como prêmio uma bolsa de estudos de uma agência nuclear internacional.
Entrar em uma universidade pública é a luta de muitos brasileiros que não têm condições de arcar com um curso de uma instituição privada. Ana Gabryele Moreira foi mais uma dessas, que após cinco tentativas, conseguiu.
Agora ela está de malas prontas para seguir viagem. Isso porque ela teve seu trabalho reconhecido e foi premiada com uma bolsa internacional.
Ela foi a vencedora do Prêmio Marie Curie da Agência Internacional de Energia Atômica (de sigla IAEA, em inglês), ligada à Organização das Nações Unidas (ONU). E já está pronta para estudar no exterior em 2022.
A partir de 2020 a IAEA deu início a uma campanha de incentivo às mulheres para que entrassem no ramo de pesquisa da energia nuclear.
Em uma área predominantemente masculina, a jovem deu início a uma pesquisa sobre o perfil das mulheres que atuam na área em um determinado Instituto.
Com o apoio do WIN Brasil, ela passou a traçar o perfil socioeconômico delas. Levantou questões como cor, naturalidade, áreas que atuam, se são orientadas academicamente por homens ou mulheres, quais as mulheres lhe inspiram no Instituto e se seus chefes diretos são homens.
Seu trabalho fala do processo lento de feminilização da ciência e dos desafios que ainda são encontrados pelas mulheres.
“Escolher áreas da biomédica sugere feminilização da ocupação. A profissionalização feminina, há séculos, estava relacionada a funções que mulheres desempenham tradicionalmente, atividades como cuidar, educar, servir, que eram entendidas como dom ou vocação“, destaca a aluna.
A importância dos programas sociais
Ana agora é vista como fonte de inspiração para outras meninas. Mas assim como as demais, não teve uma história de vida simples até chegar à conquista internacional.
Aluna de uma escola pública próxima a Universidade Federal da Bahia, sentiu na pele a luta que é entrar em uma instituição pública, sendo a primeira da família a alcançar o feito.
Mesmo sendo vizinha da federal baiana, a jovem conseguiu ingressar na Universidade Federal de Sergipe, onde foi orientada a cursar física médica, visto já ter um curso tecnológico na área de radiologia.
Hoje ela pode olhar para o passado e tirar lições. Não só do ingresso, mas de seu trajeto lá que foi marcado por muitas necessidades. Prestes a ir para a Suíça, ela lembra que se não fosse os programas de auxílio estudantil ela não teria conseguido.
“Durante toda a minha graduação, dependi de auxílio permanência e moradia estudantil, como o Reuni. Sem todos esses auxílios não seria possível para mim permanecer na universidade”, relembra. “Eu sou apenas uma dos milhares de jovens com origens e trajetórias semelhantes: periféricas e pretas, que precisam desta oportunidade e condições para poder sonhar com o que estou vivendo agora. Esses auxílios sofrem cortes orçamentários, devido a ações do governo federal no atual momento“, critica.
Formado em História, entusiasta da literatura, apaixonado por artes.