Aos 65 anos, deficiente visual comemora aprovação em vestibular de Direito
José Marcelino nunca conseguiu se dedicar integralmente aos estudos. Teve que interromper a sua educação para trabalhar e ficou cego aos 56 anos. Dedicado, voltou a estudar e hoje celebra a aprovação no vestibular de Direito.
Ah, a educação. O que existe de mais encantador é a possibilidade que ela dá de transformar vidas, superar adversidades e mudar realidades. O José Marcelino, por exemplo, tem 65 anos e é deficiente visual. Hoje ele comemora a aprovação no vestibular de Direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná.
“Estou cheio de planos. Fiquei surpreso em ter meu nome entre os aprovados. Eu sempre tive muita vontade de estudar e agora consegui conquistar uma vaga na universidade para seguir em frente. Estou muito contente”, afirma Marcelino, em entrevista à Folha de Londrina.
O idoso mora em Cambé, cidade ao lado de Londrina (onde foi aprovado no vestibular), e teve que interromper os estudos na infância e na juventude para trabalhar. “Tive a chance de estudar até o 7º ano, mas mais uma vez tive que mudar de cidade por causa do trabalho e parei de estudar”, explica.
Além da questão financeira, mais um obstáculo surgiu em sua vida quando começou a perder a visão aos poucos como consequência de um medicamento para artrose. José Marcelino ficou cego em 2013, aos 56 anos. “Fui medicado com o remédio errado e isso prejudicou minha vista. Em janeiro de 2005 comecei o tratamento e anos depois fui encaminhado para o Instituto Roberto Miranda, onde estudei Braile e Soroban”.
Sem emprego, decidiu dedicar-se aos estudos – que, em suas palavras, são o “melhor caminho”. Sua grande preocupação era como iria conseguir estudar sem poder enxergar. Felizmente, teve apoio e acesso a livros adaptados. Daí a importância de projetos sociais e de iniciativas que promovam a inclusão!
José Marcelino quer atuar na área trabalhista. Uma das suas principais motivações é não ter tido muitos direitos respeitados durante a sua vida. Algo que ele quer que outras pessoas não passem.
Tema da redação no vestibular
E não dá para falar da trajetória do José Marcelino sem mencionar quem tanto o ajudou. No caso, a professora Sirlene Madalena Barros, especializada em Educação Especial. Foi ela quem acompanhou nosso mais novo estudante de Direito, ensinando técnicas de scanning e skimming.
E olha só que curioso: o tema da redação no vestibular foi “capacitismo”, algo que José Marcelino sentiu na pele por muito tempo. Sua vivência o ajudou a escrever um bom texto e conseguir a tão sonhada aprovação.
Com a mesma dedicação e perseverança que chegou até aqui, temos a certeza de que ele será um ótimo advogado e irá fazer a diferença na vida das outras pessoas. É o começo de uma nova jornada que será escrita com muito brilho!
Parabéns, José Marcelino, e tudo de bom para você nos estudos e na vida!
Fonte: Folha de Londrina
Jornalista apaixonado por contar histórias. Paranaense radicado em São Paulo. Louco por viagens e experiências novas.