Forró é nomeado nosso patrimônio cultural brasileiro
Após dez anos de tramitação forró é declarado patrimônio cultural do Brasil e grupos que mantém a tradição comemoram.
Após dez anos de tramitação e muita expectativa, finalmente o IPHAN declara o forró como patrimônio cultural do Brasil.
Só quem conhece o nordeste brasileiro sabe o papel que o forró ocupa em suas vidas. Não é um simples ritmo, mas é o tom de todo um legado cultural. É o símbolo de uma cultura.
Luiz Gonzaga é o mais famoso dentre tantos nomes que fizeram a fama desse ritmo pelo Brasil. No seu estilo mais tradicional, a batida envolvente sempre acompanha o enredo da saga de vida do sertanejo: sua luta contra a fome e o uso da dança como arma nessa batalha.
Exu, Campina Grande, Juazeiro, Caruaru e Juazeiro do Norte são cidades conhecidas como pólos forrozeiros. As festas de São João de Caruaru e Campina Grande são as mais famosas do Brasil.
Após o pedido feito pela Associação Cultural Balaio do Nordeste, do estado da Paraíba, ainda em 2011, se iniciou um longo processo de reconhecimento desse ritmo como patrimônio cultural.
Foi feita uma árdua descrição detalhada das matrizes tradicionais com registro documental e audiovisual.
Ficou constatado que o forró é um ritmo que tem como seus pilares outras atividades culturais, como artesanatos, orquestras sinfônicas, escolas de dança, preservação de instrumentos (rabeca, sanfona, triângulo, pífanos, zabumba etc).
A decisão foi unânime dentre os relatores presentes em reunião extraordinária realizada no último dia nove, exclusiva para avaliar o mérito da requisição.
O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional foi taxativo e declarou um dos ritmos mais amados pelo povo e notoriamente genuinamente brasileiro como um patrimônio cultural do Brasil.
O Nordeste é tradição viva
O conselho, além de classificar o ritmo como patrimônio histórico, definiu que ele era uma super gênero musical por ter dentro de seu leque outros ritmos nordestinos como o xote, xaxado, baião, chamego, a quadrilha, o arrasta-pé e o pé-de-serra.
A reunião extraordinária teve como relatora a conselheira Maria Cecília que fez uma apresentação completa do ritmo: apresentando sua origem histórica e seus desdobramentos.
O forró é uma ritmo de matriz africana que chegou ao Brasil com os escravos. Seu nome é derivado do termo “forrobodó”, que significa confusão, farra, arrasta-pé. Os primeiros relatos formais que temos da dança são em Pernambuco.
O estilo racionalmente é marcado pelos sons do triângulo, da zabumba e da sanfona; a dança é sempre em casais que literalmente arrastam o pé no salão.
Apesar de Luiz Gonzaga ser considerado aquele que deu notoriedade ao ritmo pelo Brasil, outros cantores como Jackson do Pandeiro, Marinês, Dominguinhos e Sivuca tiveram fama nacional.
Embora para muitos a decisão demorasse muito, ela foi comemorada por diversos grupos culturais que tem como bandeira a manutenção do ritmo.
O reconhecimento não é apenas mais um título ou formalização, mas é a admissão institucional da participação da arte africana na formação da cultura brasileira.
Além disso, é mais uma confirmação de um dos principais papéis que o nordeste desempenha no Brasil: a responsabilidade de manter as tradições populares esquecidas em tantos outros lugares.
A declaração vai facilitar a transferência de recursos públicos para a manutenção do agora reconhecido patrimônio cultural brasileiro.
Formado em História, entusiasta da literatura, apaixonado por artes.