Casamento ‘arranjado’ une araras para salvar espécie de extinção
Pesquisadores trazem arara-azul fêmea da Espanha para casar com pretendente brasileiro com o propósito de garantir a manutenção da espécie
Uma arara-azul fêmea deixou sua terra natal para vir ao Brasil casar-se com um brasileirinho de penas. A união foi arranjada pelo CEMAVE (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres), e pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
A arara-azul chamada Guadalupe saiu das Ilhas Canárias e pousou em São Paulo, onde após uma avaliação de saúde, conheceu seu pretendente, Teobaldo.
O propósito da ação é garantir a manutenção da espécie, arara-azul-de-pear, que hoje, segundo estimativas, só conta com 1.700 aves em todo o mundo. Fernanda Guida, bióloga responsável pelas aves, afirmar que a ação visa tirar essas espécies de risco:
“Por isso, este programa permite que tenhamos uma população reserva que habite sob os cuidados humanos. Para que essa espécie continue vivendo por muitos anos, precisamos reproduzir e manter essa diferença genética com uma população diversa“, explica ela que detalha que o comportamento reprodutivo desta espécie costuma acontecer entre dezembro e abril, e o tempo de incubação dos ovos é de 26 a 28 dias.
O casamento foi arranjado pela equipe após verificarem que as duas aves são geneticamente compatíveis.
No Brasil, ele é a arara-azul mais apta para experiência por ser a mais velha em cativeiro. O Teobaldo nasceu em 2015.
Namoro “à distância“
No entanto, apesar do alinhamento genético, pode não rolar a química entre os pássaros. Por isso, hoje eles estão juntos, mas em espaços diferentes, apenas separados por uma tela. O objetivo é dar aos animais um tempo para que eles se conheçam.
“Eles precisam criar vínculos afetivos fortes“, ressalta Guida, que relembra o caso de uma casal que viveu junto harmonicamente durante 15 anos, mas sem se reproduzir. Após esse período eles foram separados e o macho escolheu livremente uma fêmea e tiveram ninhada em um mês.
A bióloga também ressalta que outro fator que pode dificultar é a criação dos animais. Guadalupe foi criada pelos pais, enquanto Teobaldo foi criado pelos biólogos. Isso fica bem expresso no temperamento deles, enquanto ela é bem tímida, ele já é desinibido.
“É muito diferente. A gente tenta criar esses filhotes sem criar muitos vínculos, mas eles acabam conhecendo os humanos de uma forma geral“, explica Guida.
O casalzinho só poderá dividir o mesmo espaço após uma profunda avaliação comportamental por parte da equipe. Mas os profissionais já ressaltam que a Guadalupe já tem pretendentes na fila, caso não interesse ao Teobaldo.
“Podemos tentar juntar na sorte e, se der briga, separamos. Mas, sempre preferimos que seja mais natural e tranquila. Eles são jovens e mesmo que formem um casal não vão reproduzir agora. Temos que esperar alguns anos para que consiga algum sucesso.”, finaliza a bióloga responsável.
O que nos resta é torcer para que o relacionamento dê certo e em breve possamos ver os filhinhos dessas araras que são a esperança para a manutenção da espécie.
Formado em História, entusiasta da literatura, apaixonado por artes.