Amor, sexo, e claro, solidão: os relacionamentos modernos nos dias atuais
Nos dias de hoje, as possibilidades de conexão estão trazendo uma infinidade de relacionamentos distintos. Isso é tão catastrófico assim?
Tinder é um aplicativo de namoro baseado em imagens, para smartphones, com o qual os usuários são apresentados a potenciais parceiros sexuais ou românticos filtrados por suas preferências em termos de gênero, idade e proximidade geográfica. Grindr é um aplicativo semelhante, direcionado a parceiros do mesmo sexo.
Atualmente, os aplicativos de namoro, como Tinder e Grindr, são intermediários por meio dos quais os indivíduos se envolvem em uma rotina diária em busca de amor, sexo e intimidade.
Porém, os usuários podem exibir uma versão altamente filtrada de si mesmos, se assim escolherem; as informações podem ser seletivas e altamente elaboradas, omitindo a vida real.
Em “Amor líquido” e “Modernidade líquida”, o sociólogo Zygmunt Bauman argumentou que a solidez e a segurança outrora fornecidas por parcerias ao longo da vida foram “liquefeitas” pela individualização desenfreada e pela mudança tecnológica.
Bauman acredita que o namoro pela internet é sintoma de mudança social e tecnológica que transforma os relacionamentos modernos em um tipo de jogo “mercantilizado“.
Falta romantismo?
Todo mundo tem necessidade de conhecer pessoas. No passado, isso significava presença física, mas hoje não mais é uma realidade. As novas tecnologias e os smartphones significaram uma mudança na forma de perceber o mundo e também nas formas de interagir e se relacionar.
A questão é que usuários compulsivos de aplicativos de namoro, quando se sentem malsucedidos ao utilizar essas plataformas, fazem comparações sociais que levam à tristeza e ansiedade, de forma que essas tecnologias estão gerando mais afetos negativos do que positivos.
Dessa forma, o “amor líquido” envolve vários riscos inerentes ao início de uma relação com um estranho, a necessidade de obter gratificação imediata, a aprovação constante dos outros, bem como traz o perigo de sucumbir ao vício de estar sempre procurando alguém melhor para se relacionar.
O namoro on-line aumenta o número de potenciais parceiros românticos e sexuais disponíveis. Isso contribui para a reputação de que os aplicativos são meios pelos quais o sexo casual pode ser obtido sem maiores aprofundamentos emocionais.
Uma nova forma de “amar”
Aplicativos de namoro não são mais a exceção, são a regra.
Surge assim uma nova forma de relacionamento, em que o vínculo afetivo tende a ser facilmente excluído em um momento de pressa ou insatisfação, em que o tempo de contato com outras pessoas é muito curto, e mais ainda com a proliferação de apps para encontrar um parceiro.
A possibilidade de acessar centenas de parceiros potenciais envolve a seleção baseada apenas em fotos e uma biografia muito curta. Isso inevitavelmente aumenta a ênfase na aparência ao selecionar pessoas para bater papo.
Em poucos minutos, dias ou semanas, você sempre pode desfazer a conexão e deletar aquela pessoa, como se ela nunca tivesse existido, e sem dar nenhuma explicação.
Quem decide não continuar a conversa bloqueia o contato ou não responde mais mensagens ou ligações. Essa prática ficou conhecida como ghosting, por se assemelhar ao fato de que quem o pratica torna-se um fantasma na vida do outro.
Expectativas diferentes para os relacionamentos
Muitos usam os aplicativos apenas para aumentar a autoestima ou procrastinar, sem intenção de se encontrar com a pessoa com quem estão trocando mensagens.
Isso gera um ruído de comunicação potencialmente destrutivo: enquanto um pretende “massagear” o próprio ego, o outro pode estar mesmo acreditando em manter uma relação.
Há ainda os que curtem a maioria das fotos que veem, sem necessariamente estar interessados em conversar. O resultado disso é uma quantidade expressiva de matches sem que nenhuma conversa posterior seja iniciada ou respondida.
Os aplicativos de namoro incentivam as pessoas a estarem menos dispostas a resolver quaisquer problemas de relacionamento, o que vai na contramão da premissa de que a comunicação estaria facilitada para quem está com o celular sempre à mão.
O paradoxo da solidão na era dos hiperconectados
Zygmunt Bauman levantou que a fragilidade dos laços humanos na era da Internet e das redes sociais em uma sociedade pós-moderna é paradoxal, uma vez que o indivíduo, apesar de mais conectado, está cada vez mais sozinho e isolado.
Ele definiu como essa como uma tendência da atual sociedade pós-moderna, na qual o indivíduo tem medo de estabelecer vínculos ou relacionamentos duradouros com outras pessoas.
Esse medo promove sentimentos de insegurança e também o desejo de fortalecer laços que, ao mesmo tempo, são frágeis demais para evoluírem.
É provável que essas mudanças produzam um impacto indireto na saúde mental. Relacionamentos românticos podem ter um impacto dramático em nosso estado emocional.
A diminuição da estabilidade nos relacionamentos, o tratamento negativo entre os namorados em potencial e o aumento da pressão na aparência são preocupantes, o que demonstra a vulnerabilidade emocional da geração do milênio em comparação com as gerações anteriores.
Nossa sociedade de consumo, além de ser cada vez mais individualista, é caracterizada pelo imediatismo. A tolerância aos tempos de espera é baixa, e tudo deve ser rápido e imediato, o que afeta o tempo necessário para qualquer relacionamento, seja ele interpessoal ou de parceria.
Quando todo mundo quer algo rápido!
Segundo Bauman, isso encoraja os relacionamentos tradicionais a se tornarem redes e predispõe as pessoas a fugirem de compromissos mútuos, em uma cultura onde a rede representa justamente a falta de compromisso – uma espécie de matriz que tão facilmente conecta quanto desconecta.
A cultura do consumo mudou o relacionamento interpessoal, de forma que, como qualquer outro produto, a relação será pensada para o consumo imediato e de uso único. Caso as expectativas desejadas não sejam atendidas, o vínculo será rapidamente substituído.
Lembre-se de que as relações interpessoais consistem em uma interação recíproca entre duas ou mais pessoas , nas quais estão envolvidas habilidades sociais e emocionais que promovem a capacidade de se comunicar afetiva e efetivamente, como: escuta ativa, resolução de conflitos e autoexpressão genuína.
Os aplicativos de namoro estão efetuando mudanças substanciais nas experiências amorosas de muitas pessoas. Eles podem criar uma sensação de despersonalização, com a pessoa do outro lado da tela sendo vista como sem identidade.
À medida que se tornam cada vez mais prevalentes, torna-se ainda mais importante entender como essas mudanças podem nos afetar mentalmente – para melhor ou para pior.